Arquivo da categoria: Vida Consagrada Religiosa

>Seguir Jesus: o cerne de toda espiritualidade cristã

>Seguir Jesus não é copiar – como escravo – a sua vida.
É fazer sua opção de vida dele, na originalidade de suas próprias possibilidades.
E na situação em que você vive concretamente.
É viver para os valores pelos quais Jesus viveu e morreu.
É, igualmente, seguir o caminho que Ele percorreu e fazer sua a mentalidade dele.
Quando esta vida e este caminho são indicados por Deus
E neles, Ele se revela mais fortemente
Aí está, então, a realidade do amor.
Da sua vida ficará o que se tornou amor.
O que é amor verdadeiro pode ser aprendido com Jesus.
Ele é, de fato, aquele que mais amou
Ele lhe ensina a esquecer você mesmo e transportar-se para o outro,
Pois ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida aos amigos.
Ele também lhe ensina a abrir-se aos outros sem limites:
A ser convite e disponibilidade.
“Vinde todos a mim que estais aflitos sob o fardo e eu vos aliviarei”.
Converta-se, então, cada dia em amor.
Transforme todas as suas energias em dom.
Mude interiormente e o Reino de Deus se manifestará através de você.
Você foi chamado a seguir Jesus sem reservas.
Com Ele você quer caminhar a Jerusalém, cidade de sofrimento e de glória.
Com Ele, quer dar tudo para que venha o Reino.
Neste caminho, você foi chamado para ser o menor, não para dominar;
Para carregar os fardos dos outros e não para os impor a eles;
Para dar liberdade em vez de tomá-la;
Para tornar-se pobre, fazendo os outros ricos;
Para tomar a cruz, dando alegria aos outros;
Para morrer a fim de que os outros vivam.
Isto é o segredo do Evangelho como boa notícia de vida,
Sobre o qual é melhor calar-se, pois o Evangelho torna-se somente verdadeiro e autêntico
Quando você o pratica.
Tenha sempre a Jesus Cristo diante dos olhos.
Não hesite em segui-lo.
Não pare, não olhe para trás, mas veja o que está na sua frente.


Referência: “Espiritualidade do discipulado”. Frater Henrique Cristiano José Matos, CMM – Editora O Lutador, pág 27.



>Vida Religiosa: Ser Consagrado a Deus para o serviço do Reino

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1. Identidade da Vida Religiosa Consagrada
A vida religiosa  é, antes de tudo, uma iniciativa de Deus na vida do batizado. Na gratuidade o Senhor chama o ser humano a uma íntima comunhão com Ele, convidando-o a conformar sua vida à do Cristo sob a atração do Espírito. E esta consagração específica está a serviço do Reino, projeto fundamental da missão de Jesus.
A livre aceitação desta imerecida predileção de amor do Pai, leva a pessoa a um aprofundamento de sua consagração batismal. Assume, em liberdade, uma vida cristiforme mediante a vivência dos conselhos evangélicos. É dentro da comunidade da Igreja que essa consagração adquire seu pleno significado.
O carisma da vida religiosa consagrada é essencialmente eclesial, sendo no interior da Igreja sinal e memória, testemunho e profecia dos valores centrais do Evangelho e do Reino.
A vida consagrada, de fato, “é uma diaconia para o Reino, de caráter público, provocativo, comunitário, criativo, audacioso, arraigado na experiência contemplativa de Deus que plasmou a vida e o seu destino”¹.

2. Em busca de uma vida cristiforme
O consagrado aspira a uma vida em crescente conformação com Cristo. Procura assimilar cada vez mais o estilo de vida de Jesus no seu modo de ser e agir. Semelhante programa de vida é normativo para todos os batizados e não algo privativo de eleitos! O religioso consagrado – por pura graça divina – é convidado a aprofundar e radicalizar o comum seguimento do Senhor na realidade histórica de hoje.
A vida consagrada tem, na Igreja, “a missão de fazer com que resplandeça a forma de vida de Cristo, por meio do testemunho dos conselhos evangélicos, para sustento da fidelidade de todo o Corpo de Cristo”².
3. A comunhão pessoal com o Senhor
Se a vida religiosa brota de um projeto de amor do Pai, no seguimento de Jesus, pela força do Espírito Santo, ela exige, por coerência interna, uma comunhão contínua com o Senhor. Deve expressar a primazia de Deus, fonte de seu sentido e realização, pois o homem – no dizer de Santo Agostinho (+ 430) – está feito para Deus e vive inquieto até encontrar Nele a paz. Coloca-se para o religioso a exigência incontornável de alimentar-se de uma espiritualidade sólida e profunda.

“Podemos dizer que a vida espiritual, considerada como vida em Cristo, vida segundo o Espírito, se apresenta como um itinerário de crescente fidelidade, onde a pessoa consagrada é guiada pelo Espírito e por Ele configurada com Cristo, em plena comunhão de amor e de serviço na Igreja.” (João Paulo II. A Vida Consagrada: exortação apostólica pós-sinodal sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo (23-3-1996).

Trata-se de uma experiência de partilha de vida com o Senhor, de uma graça especial de intimidade com Ele. O próprio significado da vida religiosa e seu dinamismo interno dependem desse impulso espiritual, sem o qual ela se esvazia e descaracteriza. Abrange, substancialmente, uma fidelidade progressiva para responder à superabundância do amor divino na pessoa do religioso. Quem, de fato, entrega livremente sua própria vida a Cristo vive no desejo de se encontrar com Ele, para estar finalmente e para sempre com o Senhor!

4.  Escuta da Palavra e oração incessante

A Palavra de Deus é a primeira fonte da vida cristã. Sustenta na Igreja o relacionamento pessoal e comunitário com o Senhor. A renovada escuta da Palavra de Deus interpela, orienta e plasma a existência dos consagrados. É através dela que o Senhor se revela, e educa coração e inteligência do discípulo. Faz amadurecer igualmente a visão de fé, pois aprende-se a olhar a realidade e os acontecimentos com o mesmo olhar de Deus até chegar a ter o “pensamento de Cristo” (1Cor 2, 16). Um meio privilegiado que diariamente, nos coloca em contato íntimo com a Palavra de Deus é a celebração da eucaristia e seu prolongamento na Liturgia das Horas.
A eucaristia, como memorial pascal do Senhor, é o coração da vida da Igreja. Nela se encontram todas as formas de oração: “proclama-se e é acolhida a Palavra de Deus, somos interpelados a respeito de nossa relação com Deus, com os irmãos e com todos os homens: é o sacramento da filiação, da fraternidade e da missão. Sacramento da unidade com Cristo, a Eucaristia é contemporaneamente sacramento da unidade eclesial e da unidade da comunidade dos consagrados.
A Liturgia das Horas, por sua vez, insere nosso dia-a-dia no tempo de Deus e assim o “santifica” no sentido genuíno do termo. Para o religioso, a celebração da liturgia das horas deveria ser motivo de gratidão e alegria. Expressa seu mais profundo anseio: estar em comunhão permanente com o Senhor.

“Frequentemente, no entanto, a realidade é outra. Não poucas comunidades religiosas de vida apostólica perderam (ou nunca tiveram!) o gosto pelo Ofício Divino e caíram na apatia, no formalismo ou na rotina. É verdade que não devam ser minimalizadas as dificuldades em relação a esta oração da Igreja. Nota-se, muitas vezes, uma falta de formação, particularmente na jovem geração de consagrados, no que diz respeito à Liturgia das Horas”. 

Não é segredo para ninguém que uma celebração significativa da oração pública da Igreja exige uma introdução catequética adequada. Garantida esta, a Liturgia das Horas pode tornar-se para os consagrados um verdadeiro “kairós”, um tempo de graça, pelas riquezas espirituais e potencialidades orantes que representa.
Apresenta-se, igualmente, como uma expressão eloquente da vida comunitária na caridade fraterna pela qual os religiosos são chamados a serem sinais e testemunhas da Igreja.
5. Oração e fecundidade apostólica
A vida religiosa proclama pelo seu próprio ser o primado de Deus. De fato, sem Cristo nada podemos fazer (cf Jo 15, 5) e, de outro lado, tudo podemos Naquele que nos fá força (cf. Ef 4, 13). Quanto mais o consagrado se deixa conformar com Cristo, tanto mais fecunda será sua ação apostólica. Com uma vida paulatinamente transformada pelos valores do Evangelho, o profetismo – inerente a toda autêntica vida religiosa – ganhará qualidade e profundidade. Tornar-se-á um protesto silencioso mas eficaz contra uma sociedade desumana com sua ditadura do ter, seu mito de poder e seus mecanismos de exclusão.
Na íntima e perseverante comunhão de vida com o Senhor crescerá a caridade, razão de ser da nossa existência. Começaremos a viver-para-os-outros, privilegiando os últimos da sociedade (cf Mt 25, 40). Assim, o Deus encontrado na oração e na contemplação é igualmente descoberto naqueles com quem o Jesus histórico se identificou: pobres, oprimidos, marginalizados, idosos, doentes e prisioneiros.
Ñão resta dúvida: o nosso engajamento em prol do Reino depende da qualidade de nossa vida-em-Deus: “Eu sou a vinha, vós sois os sarmentos: aquele que permanece em mim e no qual eu permaneço, esse produzirá frutos em abundância, pois, separados de mim, nada pois fazer” (cf. Jo 15). É o próprio Jesus que nos dá o exemplo de como unir a comunhão com Deus e uma vida de intensa atividade. Sem o cultivo de tal unidade, o religioso corre o risco de colapso interior, de desorientação e desânimo, perdendo aos poucos a própria razão de ser de sua consagração.

“É, precisamente, no simples quotidiano que a vida consagrada cresce, em progressivo amadurecimento, a fim de se tornar anúncio de um modo de viver alternativo aos do mundo e da cultura dominante. Com o estilo de vida e a busca do Absoluto, sugere quase que uma terapia espiritual para os males do nosso tempo. Por isso, no coração da Igreja representa uma bênção e um motivo de esperança para a vida humana e para a própria vida eclesial”.

Extraído do livro Liturgia das Horas e Vida Consagrada,  
Frater Henrique Cristiano José Matos